Sábado, 16
de junho de 2012.
Da esquerda para a direita: eu e Cadu (Prof. Marco filmando) |
Levantei às
nove e tomei meus “preparados” para mais um dia intenso de treino: o energético
(fat burner com guaraná, cafeína etc.), creatina e aminoácidos, além de um copo
de leite. Não teremos um treino regular hoje, mas sim prática de combate a
que chamamos boxing. No boxing usamos luvas de MMA (com os dedos descobertos),
podendo também ser luvas normais de boxe (que eu prefiro), caneleiras e
capacetes de treino. Desde novembro do ano passado que não boxeio e confesso
que a expectativa deste treino me fez um tanto ansioso, causando-me certa tensão
também durante o próprio boxing – especialmente no início. Apenas três outros
colegas compareceram: Romano, Cruz e Cadu. Eu havia levado minha câmera
fotográfica para ajudar a filmar (cada um de nós levou sua própria câmera); posicionei-a
na janela e no ângulo indicado pelo Marco. Os primeiros indicados pelo Professor
para combater foram o Cadu e eu. Experimentei um grau de ansiedade a mais em
saber que iria boxear com o Cadu, pois mesmo considerando-o bom amigo e sujeito
de ótimo caráter – além de colega muito divertido e bem-humorado -, já o vira
boxeando antes, e tive dele a impressão de se mostrar um pouco impulsivo e
descontrolado durante as lutas. Esta seria a primeira vez que iríamos boxear entre
nós. Fizemos dois períodos de luta, cada assalto com duração de dois minutos. Tudo
correu muito bem e sem grandes surpresas ou imprevistos, a não ser que o Cadu atingiu-me
acidentalmente com os dedos e unhas na região dos olhos, ou seja, por dentro do
visor do meu capacete de proteção. Fiquei com uma marca cor de sangue ao lado
do olho direito. O Prof. Marco percebeu isso quando retiramos os capacetes,
dando no Cadu uma bronca por esse descuido cometido. Outras lutas se sucederam
depois, cada um de nós combatendo um dos outros três colegas. Senti que fui especialmente bem neste boxing:
creio que não recebi tantos golpes como nos treinos anteriores e, mesmo que os
recebesse, suportava-os bem e mantinha firmeza na postura e na atitude de
boxeador. Além disso, encaixei um número maior de golpes nos oponentes se
comparado às lutas anteriores que já fiz junto a este mesmo grupo de colegas.
Após o treino, saímos todos satisfeitos pela prática marcial conduzida pelo
Prof. Marco, sentíamo-nos gratificados por termos vivido um excelente momento
de experiência de luta muito proveitoso a todos. Quando deixávamos a academia
cheguei a pensar em convidar os colegas e o Professor para uma cerveja, a fim
de merecidamente nos refrescarmos após tão árdua batalha e trocas de golpes. No
entanto pareceu-me que cada um no grupo estava apressado por alguma razão
particular sua (família, trabalho ou outros compromissos). Deixei a ideia da
cerveja pra lá, despedi-me de todos e caminhei tranquilamente até meu
apartamento.
À tarde fui
à residência de meus pais, já que minha mãe acabara de me ligar por haver
preparado um almoço. Logo ao me ver ficou impressionada com a marca vermelha
(que começava a arroxear) próxima ao meu olho. “Este esporte é muito perigoso
e, além disso, você deve estar sendo saco de pancadas na academia!”.
Expliquei-lhe que não, que eu havia me saído bem nas lutas, e que inclusive tinha
no pen-drive a gravação de um dos assaltos que fiz com o Cadu. Almocei, e
mostrei-lhes na tela da TV este assalto. Eu e o Cadu estávamos de igual pra
igual, sendo que me saí melhor que ele ao encaixar socos, e ele mais hábil que
eu no uso dos chutes. Meus pais gostaram do vídeo, minha mãe logo mudou de
humores quanto à minha prática esportiva e chegou a comentar: “é, você está
realmente se saindo bem nessas lutas!”.
Voltei pra
casa e dormi durante a tarde por um período de três ou quatro horas. Foram duros
os combates de hoje (como o são todos os combates), e o corpo começou a sentir grande
exaustão e necessidade imediata de recuperação. Ao despertar no início da
noite, resolvi que iria assistir a um filme no Cine Reserva, na Paulista, além
de comer um hot dog muito calórico e
repleto de colesterol ruim no Black Dog lá perto. A fome era grande e dirigi-me
primeiramente ao Black Dog à cata da guloseima, mas deparei-me com uma enorme fila
de pessoas aguardando junto ao caixa – fila bem maior que o comum naquele local.
Abri mão temporariamente do hot dog e
atravessei a Paulista até o Cine Reserva; notei que havia excelentes filmes em cartaz,
sendo que eu não chegara num bom horário para as sessões. Então desisti do filme e também do hot dog, ocorrendo-me a ideia de comer
um beirute de churrasco na panificadora Arcadas, bem ali próximo na Brigadeiro.
Uma dor de cabeça dos infernos me assolava; dor insistente que não se resolveu
nem com os mais potentes analgésicos que eu havia tomado. Sentei-me ao lado de
um grupo de pessoas que tomava cerveja e comia sanduíches, homens e mulheres
junto a seus filhos pequenos. As crianças, em idade por volta de cinco ou seis
anos, estavam por demais irrequietas e ruidosas, sendo que mudei para outro
lugar tão logo meu lanche foi servido. Mesmo sentado a um balcão mais distante,
o grito agudo dos pequenos parecia me causar severos espasmos de dor na cabeça,
mais dolorosos que os diretos de direita recebidos de meus companheiros de
academia em nosso combate matinal.
Minha mãe
ligou-me novamente dizendo que fosse até eles para jantar, uma vez que estão se
preparando para passar alguns dias em São Carlos e com previsão de viagem para amanhã
(domingo) de manhã. Paguei meu lanche no caixa, dei graças a Deus por meus
tímpanos se livrarem definitivamente dos insistentes gritos agudos daqueles
meninos (falta de melhor instrução e acompanhamento da parte dos pais àqueles
pequerruchos? Bem provável que sim). Passei no Extra Hipermercados em busca de
um pufe onde possa colocar os pés enquanto assisto às minhas videoaulas, acesso
a internet ou escrevo para este Blog frente à tela de TV. Sem pufes à venda no
extra. Desci a Brigadeiro rumo à casa
dos meus pais.
Almocei e
conversei normalmente com eles; parece que nosso convívio familiar voltou
novamente a seu normal. Percebi que é importantíssimo que eu aprenda, com a
maior urgência possível, que devo desistir de toda esperança que um dia eles me
compreendam em questões mais profundas e significativas a meu respeito: a teologia,
a espiritualidade, visão da vida e da realidade como um todo. Se eu desenvolver
a habilidade de conversar com eles somente a partir do mundo deles e sem
expectativas maiores quanto a isso, poderei manter o diálogo com meus pais até
enquanto me for possível tê-los por perto. Devo ser realista, e aceitar o fato
de que jamais poderei contar com meu pai e minha mãe como portos seguros, a quem
possa confiar questões de significado mais profundo e importante dentro da
minha realidade de vida. Acredito ter sido essa uma grande lição deste dia, juntamente
com a perseverança, a coragem e o respeito desenvolvido junto a meus companheiros
de boxing, a cada golpe trocado entre nós durante as lutas de hoje de manhã.
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